Chico-Espertice Quotidiana
No meu pescoço ninguém mete o pé. Ninguém me cala. Ninguém me sufoca. Porque eu não quero e não deixo. Tenho força e tenho guelra, sei levar a minha avante. Sou homem de revolução. Sou osso duro de roer. Não querem de mim, não me aceitam? Problema vosso. Eu sigo a direito sem ouvir opiniões contrárias. Dispenso-as. Não me interessam. Podem poupar a vossa saliva e o vosso fôlego. Quem vos mete o pé no pescoço sou eu. Podia ficar o dia inteiro a fazê-lo, o dia inteiro!...
... Mas não fico. Meto a viola ao saco. Está a ficar tarde. O sol já se põe. Tenho de passar na padaria e no supermercado. Talvez ir buscar a roupa à lavandaria. Raios partam, onde é que deixei o talão? Levo as mãos à cabeça. Encolho a figura e meto o rabo entre as pernas. Já é tarde e tenho de ir pôr o pescoço por baixo do pé da minha senhora.