Diário
Não há uma fórmula correcta para escrever um diário.
Os apaixonados fecham os olhos e deixam as palavras escorrerem-lhes pelos dedos. Os sonhadores chocalham a cabeça e palavras saltam-lhes dos ouvidos. Os rezingões, que insistem nem gostar de escrever diários, barafustam, e as palavras ficam-lhes entaladas nos dentes ou saltam-lhes como perdigotos. Os distraídos vão por aí e as palavras caiem-lhes dos bolsos sem que se dêem conta, deixando um rasto incompreensível por onde quer que passem.
E eu ando aqui, apaixonada e sonhadora, rezingona e distraída, a afogar-me nas palavras que me saem por todos os lados.