Ave Rara

Naquelas redondezas, não existia criatura mais egoísta e solitária do que ele. Era interessante ver como esses dois adjetivos davam as mãos no âmago do seu ser. Como se, virando toda a atenção para o seu próprio umbigo, houvesse excluído o mundo exterior. Ou talvez o mundo exterior o tivesse excluído a ele, deixando-o a gravitar no vácuo da ausência do contacto humano. Não obstante, o orgulho continuava a empinar-lhe o nariz e a endireitar-lhe as costas quando desfilava, ora pelos corredores do metro, ora pelos corredores do escritório onde trabalhava, não dirigindo a palavra a alma alguma, fossem eles desconhecidos ou colegas de longa data.

Não via, ou não queria ver, que na verdade o homem foi feito para a troca e para o diálogo, que sem esta dupla não há aprendizagem, e que sem esta última não há evolução. Morreria, como morrem as espécies na encruzilhada da sobrevivência, extinto, de vida e de propósito, sem nada ter alcançado para além do desgosto de ser único ― como o último pássaro que canta, sem resposta de parceiro ou de rival, sem eco nem descendência, apenas solidão.  


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